Bett Brasil traduz IA para educadores com debates e casos práticos

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Seja no fórum ou no setor de expositores, a inteligência artificial (IA) está presente em boa parte dos debates da Bett Brasil, evento de inovação e tecnologia na educação que abriu as portas da edição 2025 nesta segunda-feira, 28 de abril.
Realizada no Expo Center Norte, em São Paulo (SP), até o dia 1º de maio, a feira prevê 46 mil visitantes, mais de 450 palestrantes e representantes de 28 países nos quatro dias de evento, números que o definem como o maior da área em toda a América Latina.
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Diante do tema “Educação para enfrentar crises e construir futuros regenerativos”, especialistas e organizações destacam o potencial da IA como aliada nesse processo, desde que adotada com visão crítica e com o propósito de fortalecer habilidades humanas essenciais para a promoção da aprendizagem ao longo da vida.
Nas conversas acompanhadas pelo Porvir, há um ponto em comum: a necessidade do uso ético e responsável para garantir que as inovações estejam a serviço de todos. Segundo especialistas, a IA pode tanto ampliar desigualdades quanto potencializar soluções criativas para problemas sociais, dependendo da forma como for incorporada.
Possibilidades para a infância
Como alinhar o uso dessas ferramentas ao desenvolvimento da inteligência humana, especialmente entre crianças e jovens? Boas respostas vieram da mesa “Desafios da inteligência natural em tempos de inteligência artificial”, que reuniu a neuropsicóloga Ligia Pacheco e a especialista em tecnologias educacionais Tanci Gomes Simões.
Embora seja impossível negar a revolução tecnológica, explica Ligia, é necessário amadurecer o uso da IA para que ela não comprometa a estrutura do cérebro em formação. “Nunca vi a escola tão doente. Não podemos fugir da mudança, mas precisamos saber como utilizá-la”, aponta.
Ao contrário das máquinas, o cérebro humano depende de estímulos, experiências e relações para se desenvolver plenamente. “O cérebro é o único órgão que, quanto mais é usado, mais se fortalece. Se nos acomodamos, ele perde funções”, explica. Ela ressalta que o risco é ainda maior para crianças, cujo córtex pré-frontal (região ligada a planejamento e autocontrole) só amadurece plenamente por volta dos 30 anos.
Segundo a especialista, a educação infantil deve priorizar experiências sensório-motoras reais, e não virtuais, pois é nessa fase que se constrói a base para todas as habilidades futuras. “O tablet é vidro. A criança precisa tocar, sentir, viver experiências concretas para estruturar seu desenvolvimento”, sugere.
IA como aliada, e não substituta, da inteligência natural
Para Lígia, o caminho é integrar a IA de maneira responsável, sem abrir mão da construção da inteligência natural. “A IA é maravilhosa, mas sem abandonar a inteligência humana. Precisamos cuidar do alicerce das crianças e dos professores.”
A pesquisadora Tanci também alerta para o risco da adesão acrítica às tecnologias: “Estamos sendo seduzidos a usar IA em todos os processos, sem nos perguntar se realmente precisamos. Antes de tudo, precisamos recuperar o básico: caminhar, comer bem, ter relações humanas de verdade.”
Tanci ressalta um dos principais desafios da atualidade: não se trata apenas de inserir tecnologia, mas de transformar a educação para desenvolver habilidades emocionais e técnicas de forma equilibrada. “Mais do que tentar prever o futuro, precisamos formar alunos resilientes, capazes de pensar criticamente”, aponta.
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Por onde começar?
Usar a IA para apoiar práticas já dominadas, buscar formação crítica sobre tecnologia e aceitar o desafio de errar são os três pontos sugeridos pelas especialistas aos professores que desejam se aproximar da IA no dia a dia. “Comece pelo que já conhece. Mude pequenas coisas, use a IA para apoiar, não para substituir sua prática”, recomenda Tanci.
Lígia reforçou que é essencial envolver as famílias nesse processo, com formação específica para pais e responsáveis.
A despeito dos desafios, o tom do encontro foi de esperança: a IA pode ser uma aliada poderosa, desde que usada com consciência, respeito ao desenvolvimento humano e foco em relações verdadeiramente educativas.
“A inteligência natural é o que nos torna humanos. Se queremos construir um futuro com sentido, precisamos fortalecer essa base agora”, conclui Lígia.
Possibilidades da IA desconectada
A mesa “IA e aprendizagem: da pedagogia ao letramento”, com o professor Seiji Isotani, titular do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP, em São Carlos (SP), e a jornalista Mariana Ochs, especialista em educação midiática e coordenadora do projeto EducaMídia, começou com uma leve provocação: “Vocês estão ansiosos ou com medo da Inteligência Artificial?”
A pergunta de Seiji revelou uma plateia aparentemente mais familiarizada do que temerosa à tecnologia, e expôs a necessidade sobre igualdade de acessos. Seiji destacou a urgência de adotar uma nova mentalidade para criar soluções de IA adaptadas ao contexto brasileiro.
“Se você não tem internet ou computador, dá para usar IA?”, questiona o professor, atual presidente da Sociedade Internacional de Inteligência Artificial na Educação. Sua pesquisa, ligada à democratização tecnológica e ao conceito de IA desplugada mostra que sim, é possível. E que já há avanços na área, como contou recentemente ao Porvir.
Com mais de 20 anos de atuação na área, Seiji é fundador do NEES (Núcleo de Estudos em Educação e Tecnologia), ligado à UFA (Universidade Federal de Alagoas) e propõe, entre as áreas de ação para desenvolver soluções inclusivas de IA, a “conformidade”: ou seja, aproveitar a infraestrutura já existente, como o uso de celulares. “Mesmo nas regiões mais pobres, 90% das pessoas têm acesso a algum tipo de celular”, explica.
Acesso democratizado
Ele destacou o aplicativo “Acompanhamento Personalizado de Aprendizagem” (AIED Unplugged, que permite que professores fotografem redações de alunos e, mesmo com acesso limitado à internet, recebam diagnósticos sobre coesão textual e dificuldades de escrita.
Em apenas um ano, o projeto chegou a 7 mil escolas brasileiras e impactou 500 mil alunos. “As escolas mais desfavorecidas foram as que mais adotaram a ferramenta, representando 79% dos usuários”, apontou. A iniciativa também registrou melhorias significativas na aprendizagem em diferentes contextos, tanto urbanos quanto rurais.
Outro destaque da palestra foi uma ferramenta que cria atividades de matemática a partir das respostas dos estudantes. “A aprendizagem personalizada exige uma nova pedagogia, que precisa ser construída junto com os professores”, defende Seiji.
A importância da educação midiática |
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Mariana Ochs destacou como a inteligência artificial já se incorporou ao cotidiano de maneira quase imperceptível, tornando-se uma presença constante mesmo sem que a maioria das pessoas tenha plena consciência disso. “Não temos a opção de ignorar essas tecnologias”, afirmou, ao alertar para o impacto inevitável da IA na vida pessoal, profissional e educacional. Ela reforçou ainda a diferença entre “educar com IA”, usando a tecnologia como ferramenta de apoio ao ensino, e “educar sobre IA”, que envolve formar cidadãos críticos capazes de compreender, analisar e interagir de forma ética com essas tecnologias. Segundo Mariana, a verdadeira novidade não está no surgimento da inteligência artificial, desenvolvida desde os anos 1950, mas no acesso massivo e cotidiano existente hoje. Como exemplo, ela lembrou que 99% dos brasileiros conectados utilizam o WhatsApp e que o ChatGPT já reúne cerca de 400 milhões de usuários semanais no mundo. No e-book “Educação midiática e inteligência artificial: fundamentos”, Mariana aborda o papel fundamental dos educadores ao tornar o público mais resiliente frente aos efeitos das IAs, promovendo a capacidade de identificar a ação algorítmica, entender seus impactos, questioná-los e até modificá-los. “A educação deve fortalecer a autonomia e a consciência crítica dos usuários frente às tecnologias”, escreve. ![]() |
IA como apoio para fluência leitora
Garantir que todas as crianças estejam alfabetizadas até o segundo ano do ensino fundamental é um compromisso da educação brasileira. A meta, definida no PNE (Plano Nacional de Educação), está alinhada à BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Além disso, o governo federal já lançou o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada e aposta em princípios como equidade educacional (considerando fatores regionais, socioeconômicos, étnico-raciais e de gênero) e colaboração entre União, estados e municípios para reverter o quadro.
A fluência leitora vai além da decodificação: é a ponte para a real compreensão do texto. A ciência comprova que dominar essa habilidade libera a mente da criança para interpretar e refletir. A IA se destaca como aliada nesse processo, conforme mostra um novo projeto da Saber Educação.
Em seu estande na Bett Brasil, a Saber apresenta a solução Sab.IA, plataforma em fase prova de conceito voltada à fluência leitora na fase de alfabetização das crianças. Os participantes poderão acessá-lo para entender suas funcionalidades e resultados.
De acordo com Beatriz Nunes, especialista em políticas públicas da Saber, é preciso distinguir diferentes tipos de IA. “A inteligência artificial da Alexa (presente em caixas de som Amazon) é ‘muito flexível’, pois qualquer pessoa pode falar e ela tenta entender o que foi dito, mesmo que de maneira incompleta. Em contraste, o sistema em desenvolvimento pela Saber é considerado ‘totalmente inflexível’ no que se refere à medição da fluidez da pronúncia, exigindo que a fala seja correta.”
O sistema é voltado à medição da fluência leitora, considerando, inclusive, diferentes sotaques brasileiros. Também está sendo avaliada a leitura de sotaques estrangeiros.
Apresentar o produto aos visitantes da Bett Brasil funciona como termômetro para empresa, a fim de colher a percepção dos educadores e considerá-las antes do lançamento oficial.
De acordo com Beatriz, também se discute a ideia de o aplicativo Sab.IA comparar os resultados da plataforma com os resultados da Prova Brasil. “A Prova Brasil é percebida como algo padronizado e gerador de ansiedade nos estudantes, enquanto algo feito ao lado do professor, na plataforma Sab.IA, pode gerar menos ansiedade”, comenta.
Acervo baseado em IA
Nascido na Espanha e naturalizado brasileiro, José Moran costuma se definir como “professor, escritor e palestrante sobre educação humanista transformadora, criativa e tecnológica”. A definição, no entanto, é modesta diante da importância de sua trajetória.
Conhecido por suas contribuições para a transformação da educação e defensor de metodologias inovadoras, como aprendizagem ativa, ensino híbrido e o uso de tecnologias digitais, Moran tem uma carreira marcada pela inclusão e a promoção de uma aprendizagem mais significativa e conectada aos desafios do mundo contemporâneo.
O acervo de seu site, intitulado “Educação Transformadora”, acaba de ganhar um sistema de inteligência artificial de busca, a AuroraMoran. O projeto foi apresentado por Moran e por André Genesini, especialista em inteligência artificial aplicada à educação, que foram ao palco da Bett Brasil na tarde desta segunda-feira. A AuroraMoran funciona diretamente no WhatsApp, com o objetivo de oferecer suporte personalizado sobre conceitos relacionados à inovação na educação. A proposta é tornar o acesso a informações mais ágil e acessível para educadores e demais interessados no tema.
Uma vez no chat, você pode interagir com a IA, tirando dúvidas e explorando ideias sobre metodologias ativas, ensino híbrido e integração de tecnologias na educação. Seja para planejar aulas, incorporar ferramentas digitais ou repensar estratégias pedagógicas.

Conexão com a realidade
O professor Moran é um defensor e praticante de uma educação mais flexível e conectada com a realidade dos alunos, valorizando não apenas o desenvolvimento intelectual, mas também o crescimento emocional e a colaboração. Sua abordagem busca tornar o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico, humano e adaptado às necessidades do século 21, assuntos que se destacam em seus escritos.
De acordo com André, as interações com a IA AuroraMoran concentram-se principalmente em dois eixos temáticos. O primeiro diz respeito às discussões teórico-pedagógicas, abrangendo metodologias ativas, educação híbrida, projetos de vida e o alinhamento curricular conforme a BNCC (Base Nacional Comum Curricular). O segundo tem como foco a dimensão prática, abordando especificamente a aplicação de tecnologias educacionais, com ênfase no uso de inteligência artificial no processo de ensino-aprendizagem.
O especialista em IA menciona que a maior parte das interações, são perguntas de “alto nível”, como pedidos de sugestões de bibliografias reunidos pelo professor ou ainda sobre temas urgentes na educação. “Professores, especialmente de regiões como Norte e Nordeste, fazem perguntas ‘de alto nível’ ao descreverem seus contextos específicos (como aulas de geografia, consciência negra ou direitos indígenas em áreas com violência) e pedirem orientação sobre como encaixar ou aplicar metodologias ativas ou ensino híbrido nessas situações”.
Quem segue carreira acadêmica também tem se beneficiado das conversas com a IA. “Alunos de doutorado de universidades de referência utilizam a ferramenta para avaliar hipóteses de pesquisa e discutir o planejamento de suas teses”, explica André.
Para Moran, por mais que a tecnologia traga benefícios, é fundamental manter a atenção crítica. “Aí já entramos no outro lado, que hoje me preocupa mais: como ser uma pessoa livre, empreendedora, criadora — e não apenas alguém que usa ferramentas ou copia modelos”, destaca. Ele reforça que ferramentas de IA devem atuar como assistentes, sem substituir a autonomia de quem gerencia o processo de ensino e aprendizagem.
“Muitas pessoas hoje caem nessa armadilha, porque estão usando a tecnologia para facilitar tudo. Porém, essa facilidade traz também uma certa alienação, tanto do professor quanto do aluno”, disse.
Em artigo publicado no Porvir, Moran alega que o mais importante em sua trajetória foi a coragem de experimentar pequenas mudanças que, aos poucos, o reconectaram com a paixão de ensinar. “Agora meu desafio maior é o de aprender a envelhecer, mantendo a mesma paixão por viver e por contribuir para melhorar nossa educação.”
Serviço:
Bett Brasil 2025
São Paulo, até 01 de maio de 2025.
Local: Expo Center Norte – SP
Site oficial
Inscrições para congressista
Credenciamento para visitação gratuita
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